Doenças profissionais em TPD e como prevení-las - Infecciosas - 6      

Desde 1995 em palestras dirigidas à TPDs 8 e em 1997 /1999 em capítulos no livro do Congresso Paulista de Prótese Dentária9,10 ,já alertávamos a classe dos protéticos sobre os perigos de infecção cruzada com moldes enviados aos laboratórios de prótese dentária. Portanto, só por nosso intermédio, já se vão mais 7 anos de avisos !
Numa análise rápida, só no ano de 2001, encontramos mais de 4 artigos sobre o tema em Revistas Científicas dirigidas àqueles afeitos à Prótese Laboratorial.
As empresas de produtos de moldagem, que há 10 anos pouco falavam de desinfecção de moldes, hoje têm pontos específicos em suas instruções detalhando como deve ser feita para não causar alterações dimensionais em seus materiais.
Tanta movimentação seria em vão se não houvesse uma preocupação real com o tema, já que muitos vírus e bactérias dos pacientes podem sobreviver até 72 horas fora da boca ,dando tempo dos moldes chegarem ao seu laboratório..O da AIDS, da Hepatite B,C e D, o Citomegalovirus, Herpes, Sarampo e caxumba,gripe, rubéola, sífilis dentre outros menos comuns,podem acessar seu ambiente e você tem que estar preparado para isto.
                     Para eliminar a maior parte deles a solução seria colocar os moldes em autoclaves, onde sabemos que conseguiríamos a esterelização absoluta( a exterminação total dos vírus e bactérias conhecidos) ,mas perderíamos os moldes ,já que sofreriam -inclusive as moldeiras – distorções irreversíveis. O mesmo poderia ser pensado conseguir com as estufas de calor,que também causariam a inutilização de nossos moldes.
Outro processo poderia ser a câmara com óxido de etileno, de alto custo e inviável à maioria dos laboratórios de prótese dentária , e que para ser corretamente usada devemos umidificar os materiais antes.Assim os hidrocolóides irreversíveis (“alginatos”) e os poliéteres -que sofrem grande deformação na presença de água - não podem se usar desta técnica de esterelização.Próteses já acrilizadas podem passar por este processo18.ATENÇÃO: se você não domina os materiais de moldagem usados pelos CDs e suas características (inclusive visuais),sugere-se um estudo aprofundado antes de pensar em descontaminá-los.Leia um bom livro – e atual- de materiais dentários2. Assim só nos resta, de forma prática, buscar um caminho para deixar os moldes menos propensos a serem portadores de infecções diversas : a desinfecção por soluções químicas,que se não exterminam todos os agentes infecciosos(não é eficiente como as autoclaves), aos menos resolve em boa parte dos casos(dentro da realidade de trabalho com moldes que não podem sofrer distorções).
No nosso mercado, dois produtos podem ser encontrados:

1) 1) GLUTARALDEÍDO: em solução aquosa de 2 a 3,2% ,é eficiente como um desinfetante de amplo espectro e que também combate esporos.Tem um ativador (que dura de 14 a 30 dias) e os moldes devem estar limpos, sem restos orgânicos, antes de o usarmos. Pode irritar as mucosas (usar máscaras) e em ambientes fechados, só com boa ventilação. Não é indicado para alguns materiais de moldagem (ver tabela abaixo) pois pode alterar o molde. A imersão por 10 minutos parece ser a mais recomendada, em pote fechado, por conta de seus vapores. Materiais que se embebem de líquidos (Hidrocolóides,por exemplo) não podem ser imersos ou distorcerão irremediavelmente. Para certos destes materiais, o spray com glutaraldeído pode ser uma solução eficiente.
 2) 2) HIPOCLORITO DE SÓDIO: de 0,5 a 5,25 %,em soluções frescas, não expostas à luz do sol. Alta ação corrosiva. É opção quando o glutaraldeído não é indicado pelo fabricante do material de moldagem. Pode ser por imersão ou por spray. Comercialmente o hipoclorito a 1% é conhecido como líquido de Milton e o 1,6% como líquido de Dakin.Assim, diluição deverá ser feita , se a instrução do fabricante assim o propuser. Para SCARANELLO e colab.(2001)19, com os poliéteres (in vitro) tanto o glutaraldeído como o hipoclorito podem ser usados,sem perda de detalhes e indicam gessos sintéticos para o vazamento dos moldes.

  

Na literatura, outros desinfetantes químicos existem- como os iodóforos,fenóis,álcoois,álcool + clorhexidina,oxidantes- mas seu uso pouco é citado até pelos fabricantes de materiais de moldagem/resinas acrílicas/metais/ceras e mesmo em artigos científicos,quer por sua eficiência,por sua ação sobre os metais,seu custo e disponibilidade no mercado dental brasileiro.                                   
Assim, você deve criar um sistema prático de receber, desinfetar com segurança e vazar os moldes, desde que entram em seu laboratório, vindos dos consultórios dentários.
Mas não se esqueça: se houve prova na boca, há necessidade de nova desinfecção, por que o risco de contágio está sempre presente.
Uma pessoa deve ser incumbida desta função, para que os procedimentos sejam sempre padronizados, eficientes e seguros.
Em primeiro lugar a vestimenta de quem vai abrir a caixa dos trabalhos : recomenda-se o uso de avental descartável,luva(de procedimentos,agora),máscara e óculos com abas laterais. Uma bancada com pia deve ser criada para podermos lavar os trabalhos, retirando restos de mucos, SANGUE (excelente portador de vírus e bactérias),etc....A bancada deve ser de fórmica lisa (não porosa), e ser sempre limpa com glutaraldeído a 2%,que é o desinfetante mais adequado(sempre usando luva, para evitar dermatites).
Ter uma seringa de ar também disponível (como uma bifurcação do ar do compressor) é válido para secar os moldes, antes de vazá-los.
Dispor de diversas vasilhas plásticas com tampa (tipo “tupperware” )é importante, pois o boy sempre trará vários trabalhos a cada viagem, e para colocarmos ao lado/sobre ela o bilhete do CD,Articulador,etc.. Nós, dentistas, também manuseamos os modelos antagônicos com o paciente na cadeira, por isto eles também devem passar pelo processo de desinfecção. Mordidas em cera também foram tomadas na boca dos pacientes, logo.....
  
Modelos de gesso e relações de cera não suportam a imersão (alteração dimensional, textura superficial do gesso),por isto você deve comprar ao menos 2 frascos daqueles de regar jardins pequenos, que produzem um spray ao serem apertados. Um terá o glutaraldeído a 2% novo dentro (lembre-se do período de ativação e coloque na etiqueta: “ “solução feita em --/---2003 “,para você saber quando deve ser dispensada ). O outro receberá o Hipoclorito de sódio a 0,5 %(ou 5,25%,conforme certos autores), também com etiqueta de validade. Ambos os frascos devem ser guardados em lugar fresco e longe da luz solar, para manterem suas características ideais de desinfecção (dentro de um armário, abaixo da pia, por exemplo).
Os moldes que só podem receber sprays desinfetantes serão aspergidos, sendo mantidos por 10 minutos dentro de frascos fechados com tampa, depois serão lavados em água corrente ,secos e –na mesma bancada(para evitar que o molde ande pelo laboratório) serão vazados com o gesso indicado.Certos autores propõem o uso de gaze com a solução dentro dos moldes no pote plástico, mas isto não é válido para materiais,como os alginatos, que sofrem embebição por líquidos. Os moldes que permitem imersão serão, após lavados, inseridos na substância desinfetante por prazo que varia de 10 à 60 minutos(de acordo com o fabricante).Depois são retirados, lavados em água corrente, secos e encaminhados para vazamento nesta mesma bancada.
Após terem sido obtidos os modelos, o molde é embalado em filme de PVC ou papel grosso, e unido ao antagônico e mordida em cera desinfetados e colocada em outra caixa para os encarregados de troquelização e enceramento.
A pessoa que faz este processo de esterelização deveria -idealmente- descartar sua luva após cada caso(cada caixa) terminado.A bancada limpa. A proteção plástica do vibrador (filme de PVC) jogada no lixo.Seus óculos limpos com glutaraldeído,bem como a ponta /botões/corpo da seringa de ar .Com as luvas que estava usando , NÃO pode atender o telefone, ir à cozinha ou andar por outras bancadas,abrir portas , pois estará disseminando a infecção por este locais- de nada adianta desinfetarmos os moldes e contaminar o resto do laboratório. A falha de um, pode comprometer a todos no ambiente, alertam MONTENEGRO; MANETTA (1999)10.O lixo de luvas e toalhas descartáveis devem ser embaladas em sacos plásticos brancos com a inscrição : INFECTANTE e não serem manipulados pela faxineira(a pessoa mais indicada para embalar é o próprio operador de desinfecção, dando o saco lacrado à faxineira).
 
 
Quando os trabalhos voltam após prova na boca -em qualquer fase posterior do trabalho - devem passar pelo mesmo critério de desinfecção, apenas seguindo os produtos indicados para cada tipo de prótese.
Ter na parede um estante com divisões para colocar estas vasilhas com moldes é fundamental, enquanto se espera o tempo de desinfecção para cada caso. Esta estante com divisões também deve ser de fórmica não porosa e limpa com glutaraldeído a 2% .
Como você vê, é preciso estabelecer metas precisas no controle de infecção no seu laboratório, envolvendo locais, materiais, pessoal e procedimentos específicos.Mas isto pode servir como um diferencial na hora de oferecer seus serviços, perante outros profissionais que ainda não se conscientizaram para esta necessária e urgente realidade.
Pode-se pensar que o dentista deveria fazer isto, mas o sistema sempre teria falhas  como em uma transferência,uma soldagem,um polimento rápido,por isto é melhor criar um sistema em seu local de trabalho,pois se terá certeza que os moldes/modelos//relações chegarão aos esculpidores /polidores o mais desinfetado possível.
 Para nós, dentistas, esta adaptação aos tempos de infecção cruzada não foram fáceis e a cada dia mais normas de esterelização são introduzidas,como se pode ver nos inúmeros livros publicados sobre o tema desde a década de 80 do século passado, como o de SARAMANAYAKE e colab. (1993)18 que pode informá-lo com mais propriedade do que as poucas linhas deste modesto escriba....
Mas os trabalhos vão para os consultórios para serem provados nos pacientes e retornam para acertos, esculturas, glaze,colocação de facetas e porcelanas, polimentos, etc....Além do que já foi feito na nova entrada do trabalho, os rapazes/moças das bancadas, com instrumentos e brocas vão adentrar na intimidade dos materiais, onde as últimas bactérias podem ainda estar vivas.Como uma continuidade das medidas preventivas, o uso de máscaras, luvas e óculos para estes funcionários é primordial.Seus instrumentos/brocas devem ser esterelizados (em estufa ou melhor, autoclave) após o uso,devendo serem colocados junto à bancada de recepção de trabalhos(onde a estufa/autoclave deveria estar também) para serem esterelizados e devolvidos -empacotados(papel tipo Kraft)- aos seus usuários.Considerando o tempo médio de uma autoclave(até 25 minutos;para estufa:total de 2.30 hrs),diversos jogos devem ser criados para que ao trabalho não fique interrompido entre um ciclo e outro de esterelização.O uso de ultravioleta para esterelização/desinfecção é totalmente contra-indicado e cientificamente ineficiente.

              
Fique atento às vacinações propostas pelos CROs e órgãos públicos,bem como mantenha sua caderneta em dia quanto às doses contra o tétano,uns dos riscos mais comuns com quem manuseia coisas pequenas como nós e vocês.Prevenção nunca é demais!
Nos quadros abaixo você tomará contato com os critérios para desinfecção de diversos materiais de moldagem, bem como das opiniões que divergem entre os autores consultados ,mas pela média de todos, poderá chegar a um consenso dos padrões mínimos a serem seguidos para cada produto 4,5,9,10,12 ,14,19,22.
Quando de um novo material lançado no mercado brasileiro, ver qual a substância básica e pesquisar em livros de materiais dentários ou pedir ao CD as instruções do produto e nelas procurar por “desinfecção dos moldes”.

                CONTROLE DE INFECÇÃO NO LABORATÓRIO DE PRÓTESE DENTÁRIA

 

 

(&) Spray = spray de glutaraldeído à 2% mais 10 minutos (10’) em pote fechado(#) Spray H = spray de hipoclorito de sódio 0, 5 % e pote fechado por 10 minutos
(*) imersão = glutaraldeído à 2% por 10 minutos (10’) em pote fechado(+) G/H = Glutaraldeído ou Hipoclorito de Sódio
Próteses Totais : spray hipoclorito de sódio 0,5%, pote por 10minutos
Próteses Removíveis : spray hipoclorito sódio 0,5%, pote por 10 minutos
Próteses Fixas : imersão glutaraldeído a 2% por 10 minutos
Próteses Implantosuportadas metálicas /resinosas: spray hipoclorito 0,5%, pote por 10mim.
Bancadas(de fórmica lisa) : spray glutaraldeído a 2%(sempre)

© Prótese Odontológica. All Rights Reserved.
Prologic